Antes de mais, devo dizer duas coisas:
1. não sou grande editor de fotografias. Não tenho tempo, não tenho jeito, e não tenho paciência
2. Todas as minhas imagens são, de uma forma ou outra, editadas
Muitas pessoas (e não só pessoas "desligadas" da fotografia) insistem que editar uma imagem é desvirtuá-la. Acham que se não ficar como saíu da máquina, perde o valor.
Várias coisas há a dizer sobre isso, e vários pontos de vista se devem considerar.
Começando por uma abordagem mais "histórica", há uma citação de Ansel Adams que ilustra bem a minha posição face à questão: “Dodging e burning são passos necessários para cuidarmos dos erros que Deus cometeu ao estabelecer os relacionamentos tonais.“ ("dodging" e "burning" são formas de, selectivamente, alterar o contraste da imagem). E falamos de um fotógrafo nascido em 1902!
O facto é que a edição de imagem já se faz desde os primórdios da fotografia. Nas câmaras escuras controlavam-se contrastes, distorciam-se negativos através do calor para corrigir perspectivas, etc. Já para não falar na escolha do filme. Cada marca/tipo tinha (tem) as suas características distintivas (como o contraste "agressivo" do TRI-X ou as cores sobre-saturadas do Velvia, por exemplo). Escolher o filme era o primeiro passo da edição de imagem.
Partindo para uma obordagem mais tecnológica, a questão mantém-se. Todas as máquinas digitais (sejam compactas de 50€ ou SLR's de vários milhares, já para não falar de médio-formato) têm o seu próprio "photoshop". Dependendo das condições que a máquina vê, ajusta as cores e os contrastes. Dependendo do que o utilizador ajusta (saturação, contraste, etc), elas produzem resultados diferentes.
O problema disso é que as máquinas estão formatadas com programas pré-definidos, e o que a máquina vê, nem sempre é o que nós vemos quando estamos a fotografar.
As máquinas foram ensinadas a ver o céu azul. Quando o céu está de facto azul, a imagem reflecte aquilo que os nossos olhos estão a ver e não há qualquer problema. A situação complica quando nos deparamos com aqueles céus mágicos do fim do dia, quando o que resta da luz do sol torna as núvens em tons rosa, laranja, púrpura, etc. Como a máquina está formatada para tornar o céu azul, acaba por registar o céu nesses tons. Depois ficamos decepcionados porque toda a magia que vimos com os olhos se perdeu no interior da máquina.
Neste caso, editar a imagem não é mais do que pegar na "mentira" da máquina, e torná-la "realidade". Fazer com que aquele céu mágico fique como nós o vimos, e não como a máquina o viu.
E, mesmo que a máquina acerte, a edição feita pela máquina também é edição. TODAS as vossas fotos são editadas. Mesmo as que sejam feitas com o telemovel.
A vantagem de editar em pós-produção é que caso o façam, ajustam a foto ao que viram. Se usarem a edição da máquina, a foto fica ajustada ao que um qualquer engenheiro japonês da Nikon/Canon/Pentax/whatever acha que vocês vão ver.